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A lua e as marés biológicas

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Mares ancestrais que movimentam o cotidiano.

“A lua quando ela roda, é nova, crescente ou meia lua

É cheia e quando ela roda, minguante e meia

Depois é lua novamente

Mente quem diz que a lua é velha”


São conhecidas, pelo menos por aqueles que vivem perto do mar, as ações constantes da lua sobre as marés.


Cotidianamente a lua gera marés, todos os dias tem suas duas marés altas e suas duas baixas nesse incessante movimento de avançar e ceder, de ir e retornar, de yin e yang. Além disso, em alguns momentos do mês essas marés tem seu movimento acentuado. Isso ocorre de acordo com o momento ou fase da lua. Sobem as marés nas luas cheias e nas luas novas, essas nas quais temos uma linha reta entre Sol, Terra e Lua.







Nesses instantes, em que se forma uma linha reta entre lua, sol e Terra, a força gravitacional dos astros sobre a terra se eleva e é essa força que atrai as águas para mais perto deles, gerando as marés altas.


A força gravitacional da lua sobre o planeta Terra movimenta as partículas terrestres e isso se torna mais perceptível nas partículas que formam substâncias maleáveis, como a água, principalmente se reunidas em grandes volumes como as águas nos oceanos.


No entanto, há que recordar que essa força gravitacional atua sobre todas as moléculas, sólidas, líquidas ou gasosas que estão no planeta Terra, o que é distinta é a intensidade da reação provocada, ou o tamanho de sua visibilidade. E isso quer dizer que nós também estamos sob a influência dos movimentos lunares, ainda que não formem em nós marés físicas de metros como gostaria a ciência ocidental para acreditar que a influência da lua sobre nossos corpos é significativa. Ou que para além de corpos físicos, também temos corpos psíquicos e que a influência das marés sobre eles também é significativa.


Uma recordação de origem nas águas


Um dos primeiros aspectos curiosos a serem recordados quando falamos de nossa relação com a lua e as marés é que a vida neste planeta provém das águas salgadas dos oceanos, essas mesmas que sobem, descem e dançam sob a regência da lua.


Talvez tenhamos brotado dessa dança.


Os seres aquáticos se mantêm muitíssimo conectados às marés, seus ritmos biológicos de algum modo emergem dos ritmos da água.


Em nós, isso também se mantém assim, como uma conexão ancestral com nossa origem, uma recordação de que viemos da água e que em realidade nunca saímos dela, mas como seres desse planeta temos nossos próprios oceanos interiores. Afinal de contas, temos em proporção e em constituição uma similaridade imensa com o planeta, com aproximadamente 70% de nossa constituição sendo água, e os outros 30% nossa pequenina crosta, montanhas e mais.


Nossos ritmos de vida estão também relacionados aos ritmos da lua, quanto mais distante dos oceanos mais fomos nos esquecendo disso, perdendo essa sensibilidade aos movimentos cósmicos que ela propõe, mas eles seguem nos influenciando.


Não à toa dizem haver maiores riscos de hemorragias em procedimentos cirúrgicos em luas cheias e novas, assim como costumam se elevar os casos de acidentes, de comportamentos violentos, surtos psicóticos, crises de ansiedade, euforia.


E não que estejamos propondo que a lua gere comportamentos violentos, mas sim que ela produz elevação das marés e em alguns momentos essas marés trazem suas ondas com força para as margens do mar e nós que esquecemos que isso ocorre, não nos preparamos adequadamente e somos surpreendidas já rolando entre ondas e areia de nossos pensamentos, sentimentos e emoções.


Não observamos a subida ou a descida das marés, não acompanhamos seus ritmos, não sabemos a hora de colocar o barco no mar e a hora de resguardá-lo. E no fim, vivemos a tomar caldo das marés lunares.


Recuperar os ritmos do universo… recordarmos nossa existência cíclica


Hoje, seguindo em nossos processos de recuperação dos ritmos do universo, ora com as estações, hoje com a lua, o que estamos propondo é um cultivo de saúde. Sabendo que saúde é um caminho de intimidade que construímos com o universo que nos acolhe e que somos nós. Andar em sua contramão ou com desatenção nos retira força, potência, axé, qi, vida, prana. Buscamos então recuperar a ciclicidade da vida, compreendendo os ciclos da natureza, nossos ciclos interiores e a relação entre eles.


Os movimentos da lua, são portanto movimentos nossos, pois em seu mover ela exerce uma força de atração sobre as águas, também sobre nossas águas, essas que representam nossa origem, nossa identidade, nossa conexão com a ancestralidade e 70% de nossa massa corporal. É tanto em termos concretos que esse deslocamento em direção à lua ocorre, mas é também em termos emocionais, com as águas se movem nossas emoções, se move o que habita no nosso inconsciente. Nas marés altas do mesmo modo que ela revolve as profundezas do mar, revolve nosso mar interior e nos oferece a possibilidade de acolher, lidar, conviver com as emoções que estavam decantadas.


Para recuperar a relação com a lua, antes vamos recordar que ela tem suas fases, quais são elas e como vamos tecendo todo o tempo a relação com a Medicina Chinesa. Qual relação cada uma dessas fases tem com os fundamentos dessa medicina, sendo eles YinYang e os 5 elementos, para assim compreendermos alguns aspectos de influência da lua em nossos movimentos internos e externos.


Lua nova, o escuro da noite e a força da Água


A lua nova ocorre naqueles dias de céu escuro, a lua que coloca-se entre o Sol e a Terra não reflete a luz solar e nos encontramos com o breu, que depois vai se transformando naquele fino sorriso de lua que aos pouquinhos vai crescendo.


A lua nova tem relação com o elemento Água da Medicina Tradicional Chinesa, esse elemento responsável pela sustentação de todo o organismo, de sustentação das energias Yin e Yang, por isso é chamado de raiz do Yin e Yang do corpo. Nele também encontramos a relação com a ancestralidade e com nossa identidade. Nessa lua a maré sobe para nos convidar a um encontro íntimo no interior, para reconhecer nossas águas, saber de que são feitas.


Também é um tempo propício para nutrir essa água, resguardar energia para o crescimento, recolher aqui é como resgatar recursos, armazenar possibilidades e cultivar sementes.


Emocionalmente mergulhamos na intimidade, no interior, no inconsciente para nos conectar com o que é fundamental para sustentar nossa semente.


Lua crescente, a primeira chama de luz e a força da Madeira


A lua crescente carrega consigo um sopro primaveril, relaciona-se com a energia da Madeira, essa que traz a força do crescimento, o sopro do desenvolvimento, da criatividade, da força e da generosidade. A Madeira nos oferece a força de brotar, nas plantas e em nós faz a seiva fluir com força pelo caule, promove crescimento a partir, é claro, das diretrizes e orientações recebidas da semente. A lua crescente nutre-se da lua nova, assim como os caules nutrem-se das sementes e depois das raízes. Uma raiz forte possibilita o desenvolvimento forte e saudável dos caules, bem como uma Água forte é necessária para um desenvolvimento saudável da Madeira.


O recolhimento na lua nova, a reintegração com a própria identidade, o fortalecimento do que se é são as sementes que a lua crescente promoverá, fortalecerá e fará brotar. Aqui também mora a lembrança e a força das decisões, quiçá assertivas.


Por essa razão também essa lua, ao ser associada à Madeira é compreendida como pequeno Yang, ou a força motriz que conduzirá a energia do mais Yin ao Yang, do mais interno para o exterior, da concentração à expansão.


Lua cheia, e a flor do Fogo


A lua cheia marca a lua luminosa, o céu claro. Nela encontramos a correspondência com o elemento Fogo, esse no qual chegamos a partir da expansão da Madeira. O Fogo nos oferece o máximo de Yang, a energia mais luminosa, clara, expansiva, exterior. Essas noites em que costuma ser mais difícil dormir, que são como uma flor.

A lua cheia oferece a força de expressão, de encantamento, de verbalização e concretização de ideias. Ela traz ao exterior o que estava dentro, projeta em sua luminosidade aquilo que ainda não estávamos vendo. Promove as marés altas, assim como a lua nova.


Lua minguante, e o recolhimento do precioso. Metal.


E depois de tanta expansão e luminosidade, do canto das lobas, reaprender a recolher, a levar ao interior e transformar em semente de novo. A lua cheia dá lugar à minguante, essa que corresponde ao movimento do Metal, o canto interior, espelho cristalino onde voltamos a nos ver.


Por isso é considerada uma lua harmoniosa para processos de limpeza e purificação, assim como para as avaliações e reavaliações do que foi vivido. Como fazem Intestino Grosso e Pulmões (os órgãos do Metal em nosso organismo).


Na lua minguante a energia começa a interiorizar-se novamente. Se estivéssemos observando as plantas é uma lua na qual a seiva começa a se aprofundar, assim como nosso sangue. Vai em direção às raízes.


As transições e o amálgama de todas as transformações, a força da Terra


E por último temos o movimento da Terra, que não corresponde a uma fase propriamente dita da lua, mas sim a todas as transformações.


Todos os movimentos de passagem de uma fase à outra são regidos pelo elemento Terra, esse que recolhe as informações fundamentais de cada fase para entregar à seguinte e possibilitar que uma se transforme na outra. Ou seja, entre a lua nova e a crescente, temos a influência do movimento Terra. Entre a lua crescente e a cheia também e assim por diante.


Para fazer essas transformações a Terra traz sua energia de umidade e centro, que permite o movimento sobre o eixo. Em nós a Terra representa a capacidade de reflexão, a umidade necessária para mover pensamentos, articulações, emoções, o corpo. Ou em excesso, estanca tudo em obsessão, em inchaço, inflamação.



Essas marés dos elementos e das luas atuam sobre nosso corpo, vão regendo e movendo nossas águas. Possibilitando recursos para renovar essa água, refazê-la. Para desfazer a má-água, mágoa que amarga e rebrotar em boa água. Recordar a força cíclica, recordar-nos como pessoas cíclicas nos oferece recursos constantes de renovação, refazimento, cuidado e saúde. O ciclo e a roda contém a força de mobilizar e movimentar a vida, em harmonia com eles estamos mais fortes.




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