(Reconstituindo o mapa energético interno) Quando pegamos um metrô na cidade de Belo Horizonte, depois de sua ‘modernização’, a cada estação ou parada que passa uma luzinha no painel acima da porta nos indica onde estamos. Pelas ruas: placas, faixas, letreiros. Atualmente também temos os celulares e recursos digitais que nunca nos deixam estar perdidas pelas cidades, tem sempre caminhos possíveis, tempos estimados, ocorrências, intercorrências.
E quanto à nossa orientação em relação à energia que está presente em cada instante e às direções de movimento que ela nos propõe? Em que mapa encontramos? Onde estão as placas, letreiros?
Pois bem, aqui é que adentram as plantas. Não porque tenham a função de nos orientar. Sempre é importante recordar que elas vieram bem antes de nós seres humanos e se adaptaram de forma muito mais harmônica ao planeta que compartilhamos, a ideia que gostaríamos de compartilhar não parte do pressuposto de que as plantas existam para nos servir e sim que elas existem. Sua existência é tão repleta de saberes, de capacidade adaptativa e muito mais, que a partir de uma observação e convivência cuidadosa podemos aprender um pouquinho com elas. Elas são como aquelas bisavós que estão sempre pacientemente a contar histórias, histórias essas que contém os elementos mais preciosos da magia da vida. Portanto, acomodem-se, preparem uma xícara de chá, que hoje é dia de história.
As estações do ano marcam algumas das paradas, ou dos atrativos do percurso que fazemos a cada ano. A diferença entre uma e outra é também uma diferença entre sombra e luz.
O universo brinca com luz e sombra, as faz crescer, reduzir, transformar. Essas alterações atuam diretamente na nossa saúde, no nosso ânimo, na disposição, na necessidade de quietude e descanso. Falam sobre nossa capacidade criativa, sobre a importância do repouso, da força de produção e reprodução e muito mais. O que ocorre é que nos esquecemos de carregar para o cotidiano esse mapa fundamental, fomos perdendo suas informações pelo caminho e atualmente temos uma sensação quase constante de nadar contra a maré.
Trabalhamos quando precisávamos descansar, descansamos pouco, comemos o que não nos nutre, expandimos quando o caminho seria concentrar, nos apequenamos quando necessitaríamos crescer e assim por diante.
Tudo isso vai também aparecendo em nosso corpo, temos dores de cabeça, insônia, artrite, arritmia cardíaca, cansaço, bronquite, tristeza, ansiedade, angústia. Catar os pedaços do mapa energético que perdemos no caminho, pode nos ajudar muitíssimo com essas questões, nos devolver um bocado de ânimo e de harmonia.
No fim, devolver-nos vitalidade e saúde. Claro, que não só catar os pedaços do mapa como também seguir os percursos que propõe, já digo logo, para que não pareça mais uma solução mágica em tempos atuais.
Quando perdemos os pedaços do mapa, eles simplesmente retornaram pro lugar de onde tinham saído, na natureza, na terra, as coisas funcionam assim. Perdemos pelo chão, os microorganismos fizeram a decomposição, transformaram em matéria orgânica para nutrir a terra, essa ofereceu para as plantas, as raízes absorveram e reincorporaram tudo em sua própria estrutura. Nas plantas, entre suas raízes, folhas, caules, flores nos embrenharemos como abelhas, em busca do néctar e boas histórias que nos sirvam como setas no caminho.
Todo o ciclo de vida das plantas é regido pelos ritmos de sombra e luz, que em nosso planeta demarcam as estações do ano. Os nossos ciclos de vida também. Imaginem que nós fazemos parte de uma orquestra, todo o planeta, cada um de seus seres tocam um instrumento, luz e sombra são parte dos movimentos da maestra. Nós que já não acompanhamos esses movimentos, estamos desafinando. E desafinar também quer dizer que estamos adoecendo a nós mesmas e também ao próprio planeta. As plantas, que estão bem do nosso ladinho da orquestra sabem bem os passos para afinar de novo os instrumentos.
Expandir, contrair, crescer, diminuir. Repousar, mover. Silenciar e falar. Tudo em harmonia. Sístole, diástole. Inspiração e expiração. Comer e digerir. Cada passo precisa funcionar em harmonia. Se pensamos em uma pequenina semente, contraída, miúda, com toda a planta dentro de si, ou com todos os potenciais da planta dentro de si, temos também um tempo de escuro, no qual ainda não é luz, mas um dia será. Ainda não é árvore, mas um dia será. Ainda não é expansão, um dia será. Será na medida em que cuidemos bem da quietude, da contração, do pequenino.
O tempo do inverno mora na semente das plantas. Toda semente guarda um pequenino inverno, seus saberes, sua força, sua função. Elas sabem recolher, guardar o que é importante, permanecer em quietude, esperar pelo movimento, armazenar o essencial.
Além disso o inverno tem um pedacinho de si também nas raízes, essas que crescem em direção ao escuro, buscam o frio e úmido, em sua grande maioria vão para baixo. Sustentam e mantêm a vida, mas não expõem seus movimentos como fazem as flores. Sua festa mora dentro, esse é seu segredo, é um segredo de Água.
Já a primavera faz morada nos caules, esses que têm a força do crescimento e da expansão da Madeira, que retiram a planta de sua morada no interior da terra e fazem crescer em direção ao sol. Fazem emergir sobre a terra, fazem correr para cima, para baixo e em todas as direções seiva bruta e elaborada. Nos caules a força de vitalidade das plantas, seu grito e sua criatividade.
Nas flores mora o Verão, vistoso, luminoso, quente, o Fogo. Toca diretamente o coração, guardam os segredos das emoções. Não à toa os florais trabalham tanto a nível emocional.
Nos frutos, a transformação, onde a forma ganha força de transformar-se e da flor fecundada nasce o fruto. Ora polpa carnuda, ora doce, outras azedas ou amargas, mas no fruto mora esse centro distribuidor de virtudes e tesouros que é o estio. Armazém do movimento e não da acumulação.
Já nas folhas, que tragam e traduzem a luz do sol, que respiram, fazem as trocas gasosas, que caem e mantém a umidade do solo, mora um pedacinho de outono. A capacidade de morrer e nascer todo dia.
Também é curioso observar que as estações e cada parte das plantas falam diretamente a alguns órgãos e sentires de nosso corpo.
Se vamos ao inverno com suas raízes e sementes, eles falam diretamente aos nossos Rins e Bexiga. Assim como aos ossos e à audição. Relacionam-se aos sentimentos de medo ou ânimo, à força de vontade. Essas raízes tem função de dar sustentação à vida, de oferecer força vital à planta, assim como Rins e Bexiga fazem conosco.
Já na primavera com seus caules, temos uma ressonância direta com nosso Fígado e Vesícula Biliar, com os músculos, articulações, com nossa visão. Nas emoções, relaciona-se à criatividade, à força do grito e ao ímpeto de transformações. Por vezes pode também associar-se à ira, à raiva.
O verão e suas flores, em nosso corpo ressoa com o Coração e o Intestino Delgado. Com o sangue e seus vasos. Relaciona-se também com a alegria e o contentamento, ou por outra parte com a tristeza, o desânimo, a depressão.
O estio com seus frutos transforma-se em nós em Baço-pâncreas e Estômago, assim como na nossa capacidade de pensamento, reflexão e inteligência. E pode por outra parte tornar-se um lamaçal de pensamentos repetitivos e obsessivos dos quais não conseguimos nos desvencilhar.
O outono por sua vez, com suas folhas, em nós se manifesta como Pulmão e Intestino Grosso, como pele e pelos, como lembrança, nostalgia, melancolia, tristeza, saudade. Ele tem essa força das folhas que caem e que na manutenção da umidade de diversidade da microbiota do solo, mantém toda a vida possível e forte. Assim é nossa microbiota intestinal, assim também é a relação do Pulmão com o Rim, de retroalimentá-lo com umidade para manter a essência e a vitalidade fortalecida. Assim também é a sabedoria de que tudo aquilo que morre deve permanecer alimentando a vida, por cair na terra, entregar-se a ela e tornar-se seu alimento.
E saber que essas estações e partes de plantas tem ressonância com nosso próprio corpo é um fator fundamental. É a recordação de que na verdade não podemos perder de vez o mapa porque ele segue nos habitando e se reintegra a nosso corpo toda vez que nos alimentamos.
E claro, nos alimentamos principalmente com alimentos com alto valor nutritivo, produzidos sem agrotóxicos, que sejam de produção local, venham de terra boa e viva e no tempo certo. O mesmo serve pro ar que respiramos e pras emoções que nos nutrem.
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