Vento é o sopro cósmico entre céu e terra...
...é feita de seu sopro a variação, a mutação, a reação. Ele traz os fermentos, ativa as transformações interiores, invisíveis, que fazem com que a Terra faça nascer o dia, brotar a semente, soar a flauta, ecoar a voz.
O grito também é força da madeira, também é sopro primaveril. Quando sentamos na grama, em um dia de lua cheia, na primavera (principalmente se for após a chuva) e colocamos as mãos na terra, é possível sentir que tudo abaixo se move.
Um força ascendente vai ecoando pelos poros do solo, ganhando força, ganhando tônus e tom. Ganhando timbre e ecoa!
Ecoa como um grito-broto!
Cada broto de planta na primavera dá voz ao grito da terra, a força do grito é a transformação. Ele é muito vento concentrado e direcionado. Tem a força de fazer brotar a vida (se essa é a intenção).
A raiva é mais uma das facetas da madeira, uma das leituras de seu ideograma traz a imagem de um peixe, vindo das profundezas do mar do Norte que vai ascendendo à borda da água.
Ele sai da água transformando-se em um pássaro e alçando vôo nos ares. A raiva descreve o exato momento em que temos o peixe-pássaro, instante de transformação, de ascensão, de expansão que para isso, carece de ímpeto! de um imenso impulso! que novamente recorda o grito.
A outra leitura do ideograma de raiva, há que dizer, traz a imagem de uma mulher presa sob a mão de seu mestre como uma escrava e aqui ela representa o coração que se oprime, se aperta, amarra o grito no peito... que uma hora sairá. Sua saída resguarda a possibilidade do movimento, da justiça, da mudança, mas nessa condição a raiva já não traz só o ímpeto como pode trazer a violência que foi guardada no peito, traz a transformação.
Se achegue primavera, com seus gritos-brotos de liberdade e liberação.
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