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Mergulhar no inverno: para sonhar um mundo novo.

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Na noite, raiz do dia

Na semente, o princípio da flor

No preto, a absorção de todas as luzes

É ali que moram todas as potencialidades,

as possibilidades ainda não manifestas.

O que pode ser, habita na sombra da noite,

no sonho é que se revela.

Para sonhar e nos reencontrarmos ali,

dentro de nós mesmas,

há que resgatar essa semente de inverno.


Quando falamos da estação do inverno segundo a Medicina Tradicional Chinesa também estamos nos referindo ao ELEMENTO/MOVIMENTO Água (dentro da teoria dos 5 elementos/movimentos que são Água, Madeira, Fogo, Terra e Metal).


Essa estação, esse elemento representa uma série de qualidades: físicas, mentais, emocionais. E uma forma de nos cuidarmos no inverno, de resgatarmos nossa saúde é conectando com essas qualidades. Permitindo que seus sopros nos moldem o corpo, nos esculpam os pensamentos, teçam nossos sentimentos, para que também sejamos inverno, resgatando a conexão com o corpo da Terra, que nos acolhe e que também somos nós.


Conectar ao inverno (que chega em breve) é voltar a ser semente e raiz. As sementes e raízes das plantas correspondem ao elemento Água. Recuperar a capacidade de ser semente é resgatar nossas potencialidades, relembrar as qualidades, observar as que estão dormidas. É um tempo propício de reunir energia e nutrir essas potências internas, confiar nelas para transpor as barreiras do medo, no tempo certo, como fazem as sementes com sua própria casca, com a terra e mesmo com o concreto.


Também as raízes correspondem à Água/Inverno. Falando das plantas, isso quer dizer que a maior quantidade de energia, seiva, sopro, estará nas raízes. Falando de seres humanos, também, para recordar a arte da sustentação e a força da identidade.

Descobrir ou relembrar o que nos dá sustento, firmeza, nutrição. Todos eles, a nível físico, emocional e espiritual, são propícios no inverno. E mais que relembrar, ‘botar sentido’, dar atenção e intenção a isso. Fortalecer a raiz, cuidar da raiz, não deixá-la fraca, descoberta, desprotegida, sujeita a fungos, bactérias e enfermidades de toda ordem.

A raiz é que oferece sustento à planta, sem ela isso não é possível e dificilmente a planta sobrevive. Enraizar é a sabedoria primeira de manutenção da vida.


A raiz também é quem acaricia a terra, permite que ela não seja nem compactada demais, tampouco esfacelenta. A raiz conduz a água das chuvas à profundidade, alimenta os armazéns de água interiores, faz com que o ciclo da água (e da vida) seja saudável e longevo. Tanto no corpo da Terra quanto no corpo ‘da gente’.


Cuidar de nossas raízes é contatar com nossa identidade. Uma louvação à diversidade que só é possível e que só podemos fazer quando sabemos quem somos. De outro modo, nos tornamos parecidas/os/es com sementes transgênicas: sem força interior, sem capacidade de brotar, sem o sopro da vida.


Para esses tempos então, de Inverno se aproximando, alguns cuidados com nossas raízes e sementes podem ser muito preciosos, fortalecendo nossa essência, restaurando a vitalidade e a força interior. Sugerimos por aqui alguns deles:



Alimentar-se de raízes, sementes, cores escuras pretas e marrons.


Cenoura, feijões, algas marinhas, nabo, linhaça, chia, sementes de gergelim (melhor ainda o preto)... esses alimentos têm a força do elemento Água.

Raízes e sementes nos recordarão como podemos reaprender a nutrir nossas próprias raízes e sementes interiores (as transgênicas não contam, tampouco as que só sobrevivem à base de agrotóxicos, pesticidas e aditivos químicos. Essa informação foi retirada delas. Está presente, em abundância em alimentos agroecológicos).

Com esses alimentos o tempo de inverno torna-se fonte de água viva a partir da nutrição da essência, da reposição da energia (e das águas), da recuperação do ânimo.



Respeitar a noite e a escuridão.

Recuperar a relação com a escuridão. Apagar um pouco as telas, luzes artificiais. Essas que geram tantos problemas de sono como insônia, noites mal dormidas, sonos que não reparam nem descansam.


Aproximar novamente essa dimensão da noite e da escuridão é também recuperar a capacidade de regeneração que ocorre somente no sono e em um sono de qualidade. Essa regeneração é a nível físico, pela reparação de células e tecidos que foram danificados ao longo do dia, pela desintoxicação e eliminação de toxinas em nosso corpo que nos dão a sensação de cansaço e exaustão constantes. Também nos reparamos a nível emocional, pois a energia durante o dia, no estado de vigília, permanece na superfície de nosso corpo e à noite se aprofunda nos órgãos, possibilitando a reparação emocional, a elaboração e o aprendizado. Permite também, nesse encontro com o interior a criação de novas possibilidades, alternativas e saídas para o cotidiano.


Respeitar a quietude e a contração


Seguindo na intenção de regenerar e recuperar as forças, o inverno é o tempo propício para nos recordar da importância de resguardar a quietude e a contração. Quietude não como inércia, ou procrastinação mas como a força de contração que precede a expansão, o broto, o parto. Essa força de observação interior, de reunião de força para fazer brotar projetos, ideias, ações distintas que não estejam somente na lógica de repetição mecânica do cotidiano.



Respeitar as intuições


Intuição muitas vezes é algo que se sente e não se explica à luz da racionalidade. No inverno, recordar que a racionalidade não é toda a luz que temos é fundamental.


Por isso falamos tanto da importância do escuro, da noite, dos sonhos, do interior.


Por isso a importância das sombras, as nossas inclusive, que diferente do que costumeiramente se diz, não são o lado ruim ou algo perverso, são simplesmente uma parte de nós que ainda não vimos, não revelamos. Uma parte de potencialidades inclusive.


A intuição faz parte desse desvelo das sombras, desse desenhar dos sonhos, do desabrochar da noite.


E ainda nessa toada, da regência de sonhos e sombras revelados nas intuições:



Lembrar da lua…


Recordar a força da lua, essa que rege as noites, que brilha no tempo do escuro e que guia as intuições. É curioso recordar que a lua que brilha na noite é a grande regente das águas planetárias, é ela quem movimenta as marés, que faz as águas subirem e descerem. É curioso lembrar também que nós somos água, um corpo de aproximadamente 70% de água e que certamente não passamos imutáveis diante da força da lua que move até o oceano.


Essa recordação é para situarmos a observação da lua e seus ciclos como parte de nosso movimento de saúde. Recordando que para além das estações também cuidamos dela acompanhando as micro-estações que são representadas pela movimentação e luminosidade da lua. E especificamente falando do inverno, há que saber que nas luas novas, que também pertencem ao elemento Água, tudo o que falamos anteriormente ganha ainda mais relevância.


Que o inverno seja bom tempo de recordarmos nossas águas interiores, de reencontramos com a noite e desabrocharmos os sonhos que dão vida à nossa identidade. Esses que são capazes de nos apresentar novas possibilidades de mundo.




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