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O Yin e o Yang: Fundamentos da Medicina Tradicional Chinesa

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“A virtude do céu baixa e a energia da terra ascende, de modo que Yin e Yang se unem e dão origem a essência, matéria básica da vida”. Huang Fu Mi, Tratado clássico de Acupuntura e Moxabustão. Yin e Yang são conceitos básicos da medicina chinesa. E não só da medicina, mas de todo o pensamento oriental. É um fundamento básico para compreender a manifestação da vida e por isso, faz parte da medicina pois compreendendo a manifestação da vida compreendemos também possibilidades de harmonização do viver e assim cultivamos saúde.

A imagem gráfica que costuma-se utilizar para explicar YinYang é o TeiJi (abaixo), que nos mostra essas duas forças entrelaçadas, intergerando-se Dois aspectos se complementando e mantendo entre si um equilíbrio dinâmico. E para falar de Yin e Yang, antes de qualquer coisa é fundamental recordar que no princípio a energia é una, uma só, indissociável. Só em um segundo momento, para que a vida se manifeste e seja conhecida como tal é que essa energia una, passa a se manifestar com duas qualidades distintas. Essas qualidades a partir de seus movimentos e interações é que serão capazes de diferenciar todas as coisas.

Elas se diferenciarão pela quantidade na qual cada uma delas estará presente…mas antes disso retornemos um pouquinho, algumas ideias sobre Yin e Yang precisam ficar mais precisas.


O que são YinYang?

Yin e yang são qualidades de manifestação da energia, do Qi, do Sopro Vital. Indissociáveis um do outro.

É importante saber que um não existe sem o outro e também que não são opostos como se costuma expressar, principalmente quando essa visão de oposição serve como forma de nivelar e comparar características, dando a algumas, sentidos negativos e a outras, sentidos positivos. É fundamental saber que Yin sem Yang não forma a vida e tampouco Yang sem Yin. Eles são portanto qualidades distintas e complementares necessárias à manifestação da vida.

Essa primeira ideia é importante, já que corriqueiramente associa-se o Yin às mulheres e o Yang aos homens, em uma concepção binária de gênero, oposta, hierarquizada, e que não é real.



E nesse ponto um detalhe importante, a língua chinesa desconhece os gêneros, a ideia de gênero e sobretudo a ideia binária de gênero que tem um fundamento europeu e faz parte das traduções da noção de Yin e Yang, mas não de sua concepção original. Falamos aqui sobre a origem do conceito e não de como as sociedades atuais foram estabelecendo sua relação de hierarquia e poder entre gêneros.

Todo ser é formado por Yin e por Yang simultaneamente, são aspectos contrastivos e complementares, que se organizam e ajustam um ao outro, em um equilíbrio dinâmico. E a distribuição dessas energias em cada ser é irrepetível e muito especial como são as impressões digitais. A quantidade de Yin e Yang que cada ser tem e manifesta o diferencia de todos os outros. Diz respeito à sua identidade, suas características, peculiaridades.

Quando falamos de Yin estamos nos referindo a uma qualidade de energia que tende à quietude, ao escuro, ao frio. Tende ao movimento interior e a interiorizar-se. É uma força de nutrição, de sustentação. Uma energia de acolhimento, de fortalecimento, de conhecer-se e desvendar-se desde dentro.

O Yin nos recorda, a noite, o inverno, a água, ainda que não possamos dizer, que noite, inverno e água são somente Yin, como todas as outras coisas, eles são Yin e Yang.

Já o Yang é uma energia de movimento, de expansão, de diferenciação. Ele nos impulsiona à descoberta do fora, do mundo. Tende ao calor, à expressão, ao claro. Pensar no dia, no fogo, no verão, nos aproxima de compreender o Yang.

O mais precioso, no entanto, não está nem no Yin e nem no Yang, mas no encontro, no entrelaçamento que ocorre entre eles e que dá origem e qualidade a todos os fenômenos, a tudo que se manifesta, ao que podemos chamar de vida. Yin e Yang se entrelaçam para nos nutrir e nos mover. Ninguém é só nutrição, ou só movimento, ninguém é só dia ou só noite. Ninguém é só claro ou escuro.


Na dança de Yin Yang vamos nos constituindo em diversidade e em relação, pois só sabemos o que é escuro por termos a referência do claro, assim como só sabemos o que é dia por ele estar em relação e diversidade com a noite e assim por diante.


Isso nos mostra também que Yin e Yang são ideias relacionais, não são absolutas, ou isoladas, só podemos dizer se algo é yin ou yang, em relação a alguma outra coisa e não de forma absoluta. Uma forma contemporânea de observar a ideia de Yin e Yang veio com a teoria da relatividade de Einstein, que traz a correspondência entre massa e energia, em realidade ele diz que massa ou matéria e energia são a mesma coisa. O que diferencia um do outro é a velocidade, a velocidade da energia é bem maior que a da massa, mas uma se transforma no outra o tempo todo. Se aceleramos a massa ela transforma-se em energia e se enlentecemos a energia ela se transforma em massa.

Outra possibilidade dessa observação é dada pela dupla manifestação da luz, já comprovada pela ciência moderna (não que as tradições precisem dessa comprovação para serem validadas), a luz comporta-se em alguns momentos como onda e em outros, como partícula. Em alguns momentos como energia e em outros como matéria. A mesma luz. E então quando falamos de Yin e Yang estamos falando da luz que somos e que vivemos como massa e energia, simultaneamente. Quando eles se desarmonizam dentro de nós, ou na nossa relação com o entorno, nos deparamos com o enfraquecimento da nossa saúde.


No desequilíbrio de Yin e Yang, para além da saúde individual, a saúde coletiva também se afeta. Por exemplo, atualmente vivemos em uma sociedade que supervaloriza o movimento, a produtividade, o dia, a luz, a racionalidade e que por outro lado desvaloriza o recolhimento, a quietude, a noite, a intuição, a introspecção. Nessa ciranda o que ocorre é que há uma supervalorização de qualidades e características Yang e uma subvalorização das qualidades e características Yin.

No entanto, a energia que não entende desses valores humanos e que só faz sentido no mundo humano, que não foram construídos com base e referência no universo e na natureza não se adequa a isso e nós, por não nos adaptarmos ou buscando adaptação, vamos adoecendo nossos corpos, nossas mentes, nossos espíritos. Viver em uma sociedade que supervaloriza e superestima as qualidades Yang é viver com uma espécie de desnutrição crônica, já que tudo o que poderia nos nutrir (uma qualidade Yin) é menosprezado e não é prioritário.


Um exemplo preciso disso é nossa relação com a noite e sua escuridão, esse espaço tempo noite-escura é fundamental para recuperar, regenerar e restabelecer as qualidades Yin de nosso organismo, no entanto, nas cidades o que temos são noites iluminadas, não mais pela lua ou pelas estrelas, mas pelas luzes artificiais de postes, letreiros, faróis, semáforos, celulares, computadores. A noite que forjamos e vivemos, enquanto humanidade, é muito mais curta, clara e movimentada que a noite natural.


E esse fato é bastante curioso, porque a noite natural nos oferece uma referência, um parâmetro da quantidade de yin, de escuridão que necessitamos para nos recompor, mas o dia invadiu a noite, a claridade sobrepôs a escuridão e amorteceu a claridade mental. Como resultado de valorizar pouco as qualidades Yin, sofremos de cansaço, de estresse, de desgaste constante. Sofremos de aceleração mental, de incapacidade de parar, de impossibilidade de relaxar. Gostaríamos de nos mover e nos falta alimento. Recuperar nossa relação tanto no interior quanto no exterior com o Yin e o Yang é fundamental para o restabelecimento de um corpo saudável, um corpo social, dentro dessa teia de vida.






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